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Em junho de 2021 a CPDLC começará a ser aplicada no espaço aéreo continental brasileiro

publicado: 24/11/2020 17:40

 




O uso de enlace de dados na comunicação entre pilotos e controladores de tráfego aéreo já é realidade no Brasil e no mundo. A CPDLC, que vem do inglês Controller Pilot Data Link Communications, é uma tecnologia de comunicação aeronáutica que permite o envio de mensagens de texto pré-formatadas nas operações de controle do espaço aéreo. Este meio de comunicação tem sido utilizado desde 2009, no Centro de Controle de Área Atlântico (ACC-AO), no Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), em Recife (PE).

Porém, a ideia é que a CPDLC seja extensiva à área continental brasileira, missão que está a cargo do Grupo de Trabalho (GT)  - Projeto LANDELL. Desde o início do planejamento, várias ações foram empreendidas seguindo um criterioso cronograma para que este serviço se torne tangível em outras Áreas de Controle das Regiões de Informação de Voo (FIR) brasileiras.

As funções do GT Projeto LANDELL foram subdivididas em dez subgrupos, a fim de que todas áreas necessárias fossem contempladas. A divisão ficou assim: Doutrina de Emprego, Interface Homem Máquina (IHM), Capacidade do Espaço Aéreo, Pesquisa, Legislação, Gerenciamento de Risco à Segurança Operacional (GRSO), Capacitação, Técnico, Divulgação e Equipamentos Aeroembarcados.

Integrantes do Subgrupo Gerenciamento de Risco à Segurança Operacional (SG-SGSO) estiveram reunidos, em outubro, com representantes dos demais grupos no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos (SP), para consolidar o Documento de Gerenciamento de Segurança Operacional (DGRSO). No início dos trabalhos, o coordenador do SG-SGSO, Major Especialista em Controle de Tráfego Aéreo Alexandre Simões Lima, esclareceu que o objetivo do encontro era consolidar o documento, em particular, os perigos identificados, riscos gerenciados e as medidas mitigadoras.

Além de revisto, o documento (DGRSO) foi atualizado por representantes do Centro de Controle de Área de Recife (ACC-RE) quanto à ampliação do escopo do projeto, que incluiu mais dois setores da Região de Informação de Voo Recife (FIR-RE), para o início da operacionalização da CPDLC continental, mantendo a área prevista para a Região Belém da FIR- Amazônica. Foi ratificada que a aplicação da CPDLC, no âmbito do Projeto LANDELL será restrita ao Espaço Aéreo Classe A, ou seja, exclusiva para voos por instrumentos (IFR), acima do nível de voo 250. Em princípio foi fixada a data de início do uso da tecnologia em 03 de junho de 2021.

O DGRSO da CPDLC Continental permitiu ao GT identificar os potenciais riscos que esta modificação poderia representar e, dessa maneira, antecipar a adoção de medidas mitigadoras para garantir a manutenção do nível de segurança operacional dos espaços aéreos envolvidos. A escolha destas regiões foi considerada para permitir uma implementação gradual da CPDLC e, devido a característica de passagem de aeronaves que fazem rotas internacionais para a Europa e para a América do Norte – o oferecimento do serviço a aeronaves já com a capacidade para utilizar a CPDLC, favorece tanto a assimilação do controlador à nova ferramenta quanto a verificação e acompanhamento do sistema (CPDLC) em operação real. Além disso, foi possível aproveitar o conhecimento operacional de mais de dez anos de operação da FIR Atlântico, a qual interagem tanto com a FIR Recife quanto a FIR Amazônica.

O gerente do Projeto LANDELL, Capitão Especialista em Comunicações Marcelo Mello Fagundes, ressaltou que a conclusão do DRGSO foi um passo muito importante para a evolução do serviço de comunicações aeronáuticas no Brasil, já que esse trabalho será considerado como base para o desenvolvimento de documentos de gerenciamento do risco à segurança operacional locais, não só nos Centros de Controle de Área Amazônico e de Recife (ACC-AZ e ACC-RE), mas também pelos CINDACTA I e CINDACTA II, quando da expansão da operacionalização dessa aplicação data link para seus respectivos espacos aéreos superiores.

Reunião GT CPDLC 10

Na semana seguinte à consolidação do Documento de Gerenciamento de Segurança Operacional, aconteceu a décima reunião do Grupo de Trabalho do Projeto LANDELL, entre os dias 19 e 23 de outubro, também no ICEA.

Durante a semana, houve progresso em várias definições estabelecidas pelo cronograma do GT Projeto LANDELL. Por exemplo, ficou estabelecido que, inicialmente, a CPDLC será utilizada somente em espaços aéreos com vigilância ATS (Serviço de Tráfego Aéreo), sendo obrigatória a reversão para a comunicação por voz (VHF), em caso de falha deste sistema. Apesar dessa definição, após a implementação, serão feitos estudos de acompanhamento e coleta de dados para uma possível evolução, de modo a permitir que a CPDLC seja aplicada em situações que não estejam enquadradas nesta particularidade.

Como para a sua implementação, o DECEA considerou a CPDLC como um meio de comunicação complementar à comunicação por voz, o Grupo de Trabalho definiu que no espaço aéreo continental, em caso de indisponibilidade do canal apropriado de comunicação por voz em VHF, o órgão de controle observe os procedimentos de falha de comunicação previstos nas normas do DECEA. Isso não impede que a CPDLC seja utilizada para normalizar a comunicação por voz e manter a segurança operacional da aeronave em falha de comunicação até o seu reestabelecimento.

Também houve aprimoramento no quesito preparação dos controladores de tráfego aéreo (ATCO). O Subgrupo Doutrina e o Subgrupo Capacitação destacaram um planejamento específico para capacitação dos ATCO no uso do CPDLC pós-implementação, que inclui a inclusão  do conteúdo do curso ATM042 (Comunicação Data Link entre Controlador e Piloto – CPDLC), além da recomendação para a inserção de treinamento ou curso CPDLC nos regionais (CINDACTA I, CINDACTA II, CINDACTA III e CINDACTA IV).

Serão fixadas premissas para assunção do ATCO no órgão operacional com CPDLC, com orientação sobre a institucionalização da formação do profissional recém-transferido para o CINDACTA III ou IV, em um ambiente de simulação in loco, com a mesma carga horária teórica e prática do ATM042, realizado no ICEA.

O upgrade desta décima edição foi a realização de uma reunião com empresas aéreas nacionais, a empresa LATAM enviou um representante para participar presencialmente do encontro.  Nesta reunião, o profissional da companhia aérea ofereceu a possibilidade de realização de voos de testes com a empresa e, ainda, a oportunidade de fazer uma verificação com uma aeronave em solo (SBGR), com utilização real do Computador de Gerenciamento de Voo (FMS).

Sobre a participação das companhias aéreas no Projeto, o Capitão Especialista em Controle de Tráfego Aéreo Cristian da Silveira Smidt, um dos gerentes, disse que a presença das companhias no Projeto LANDELL, diretamente ou por meio das Associações (ABEAR, IATA), tem trazido grandes ganhos para o Projeto, uma vez que permite um melhor entendimento de como a implementação da CPDLC afeta o trabalho das tripulações dentro da cabine das aeronaves.

"Esse entendimento permite que procedimentos operacionais sejam adotados para, primeiro, não afetar esse trabalho negativamente, provocando um aumento de carga de trabalho ou diminuição da consciência situacional dos pilotos, por exemplo, para, em seguida, buscar melhorar a prestação do serviço de tráfego aéreo para essas tripulações, permitindo que os reais benefícios do uso dessa tecnologia de comunicação sejam percebidos nas operações diárias no espaço aéreo continental,” complementou.

Não menos relevante, de importância vital para a implementação da CPDLC no espaço aéreo continental é a participação da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) neste processo, por exigir treinamento específico das tripulações. A parceria entre o DECEA e a ANAC é imprescindível para o avanço e efetivação da CPDLC em espaço aéreo continental. A certificação de aeronaves e tripulações pela Agência é um passo importante que fará com que todo o planejamento seja bem-sucedido.

Por fim, o Capitão Fagundes, gerente geral do Projeto, fez questão de registrar a dedicação e o comprometimento de todos os envolvidos."O projeto LANDELL já é um sucesso e isso deve-se ao profissionalismo, motivação e sinergia da equipe: tenho ao meu lado profissionais do mais alto padrão técnico operacional e gerencial", disse ao reconhecer o trabalho primososo que vem sendo desenvolvido por toda a equipe.

Assessoria de Comunicação Social Texto: Gisele Bastos Fotos: SDOP/ ICEA